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sábado, 17 de abril de 2010

A vida começa aos 25

O normal seria ver um jogador que demonstra interesse em deixar o clube ficar em maus lençóis com a torcida e sair pelas portas do fundo. Mas, no caso de Victor, a simples manifestação do desejo de se transferir para o exterior provocou nos torcedores do Grêmio um sentimento contrário: ao invés de possíveis vaias, uma grande mobilização em blogs e durante os jogos foi organizada para convencê-lo a ficar.

A situação reflete bem a posição em que o goleiro se encontra no Tricolor gaúcho. Victor é, atualmente, o maior ídolo do clube, e tudo isso com somente dois anos de casa. Uma ascensão meteórica que nada se assemelha com o longo e tortuoso caminho percorrido por ele nos primeiros anos de carreira no interior de São Paulo.

Formado nas categorias de base do Paulista de Jundiaí, Victor estreou como profissional em 2004, mas passou toda a histórica campanha da conquista da Copa do Brasil como reserva de Márcio. A condição de titular veio apenas em meados de 2006, quando a equipe por pouco não subiu à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, mesmo se firmando na posição, o goleiro pouco pôde fazer para evitar a queda do Jundiaí à Série C, fato que o fez temer até mesmo pela sequência de sua carreira.


“Com o rebaixamento, as dúvidas começaram a rondar e cheguei a ficar preocupado com o futuro. São coisas ruins que passam pela cabeça de um atleta, que também precisa de resultados coletivos para crescer. Mas segui o trabalho pensando em não ficar por lá. Tinha gratidão pelo clube, mas queria evoluir”, lembra Victor, em entrevista ao FIFA.com.

E, quando a sorte parecia abandoná-lo, a indicação de Mano Menezes para o Grêmio no final de 2007 serviu para que ele se reerguesse e praticamente reconstruísse a carreira aos 25 anos. "Ali as coisas começaram a clarear um pouco para mim. Saí do anonimato e fui para um time de ponta. Foi realmente a oportunidade da minha vida", aponta.

Um pouco de sorte ajuda
Ao deixar para trás a possibilidade de disputar a terceira divisão nacional e, por que não, seguir fadado a jogar em equipes de pequeno porte, Victor deu um salto enorme e, em questão de meses, lutava pela posição de titular no time comandado então por Celso Roth. O passo decisivo veio ainda na pré-temporada, quando Marcelo Grohe sentiu uma lesão e abriu espaço decisivo.

Victor assumiu a meta no Campeonato Gaúcho e não perdeu a condição nem mesmo após passar um mês afastado com um problema renal. A boa campanha do Grêmio no Brasileirão fez com que ele ganhasse rápido reconhecimento e encerrasse de vez as dúvidas que a própria torcida tinha em torno de seu nome. Ao final da temporada, se a equipe deixava escapar o título após uma reação incrível do São Paulo, ele superava fortes concorrentes e garantia o prêmio de melhor goleiro do país.



"Foi algo realmente fantástico, que demorei para acreditar e que compensou em parte a perda do título. No meu primeiro ano na primeira divisão eu desbanquei nomes como Rogério Ceni, Marcos, Fábio... Tudo isso com pouco mais de seis meses após sair do anonimato", reconhece. "O futebol é bacana por causa disso, por te permitir essas ascensões rápidas. Mostra que o trabalho foi bem feito."

Abrindo as portas da Seleção
Trabalho tão bem feito que no ano seguinte a história foi ainda melhor. Com o elenco entrosado, o Grêmio foi longe na Libertadores graças, sobretudo, às atuações seguras do arqueiro, que garantiram uma primeira convocação à Seleção Brasileira logo para uma sequência de jogos pelas eliminatórias sul-americanas e para a Copa das Confederações.

Mesmo aos 26 anos e ciente de que seu nome já era cogitado por Dunga, Victor sentiu o mesmo frio na barriga de um novato no futebol ao saber da grande novidade. "Claro, que depois de ganhar aquele prêmio, eu passei a pensar na Seleção. Mas encarava como um sonho não tão próximo. Só que, com o bom trabalho na Libertadores e com a contusão do Doni, passei a acreditar de verdade”, explica, passando em seguida às lembranças daquele 21 de maio de 2009.



"Na véspera, meu assessor e meu agente me ligaram falando que eu estaria na lista, mas preferi esperar o anúncio do Dunga. No dia, quando cheguei ao treino, o primeiro a me contar foi o segurança do clube. Depois muita gente me ligou para dar parabéns, minha noiva e minha mãe choraram... Fui dormir tarde aquele dia: meu telefone não parava de tocar e tiver que deixar umas 30 ligações sem atender”, lembra o goleiro.

Sonho realizado, hora de trabalhar
Da mesma forma que todos os novatos, Victor viveu alguns dias de euforia em sua chegada à concentração da Seleção antes dos jogos contra Uruguai e Paraguai. "Na primeira semana eu me perguntava se tudo aquilo era verdade", reconhece o jogador ao FIFA.com. "Estava convivendo com a nata do Brasil, almoçando com o Kaká, Robinho, Júlio César. Mas, felizmente fui muito bem recebido. É um grupo bacana, comprometido com o trabalho do Dunga."

O próprio treinador, aliás, foi parte importante nesta adaptação do goleiro ao resto da equipe. "O Dunga tem uma boa forma de trabalhar. Ele trata todo mundo igual, seja um novato ou alguém com história na Seleção. Está sempre aberto a conversar, a ouvir e cresceu bastante no cargo", aponta Victor.

Outra experiência importante foi vivida por ele na campanha do título da Copa das Confederações. Victor não jogou em nenhuma partida na África do Sul, mas teve tempo de sobra para observar o titular Júlio César e ainda ganhar pontos na corrida para a Copa do Mundo da FIFA do ano seguinte.

"Até então não tinha tido um contato tão grande com o Júlio nos jogos das eliminatórias. Mas na África do Sul dividimos o quarto e vi o quanto ele é alegre, responsável e passa sempre uma coisa boa para o grupo. Aprendi muito só de vê-lo treinar e jogar. Foi ótimo fazer parte mesmo não atuando", confirma.

Tensão na reta final
Após a campanha sul-africana, Victor se manteve como principal reserva nas eliminatórias, seguiu em alta no Grêmio e só não foi chamado nos três últimos amistosos, quando Dunga voltou a optar por Doni. Com Júlio César mais do que garantido na Copa do Mundo da FIFA, a impressão geral é de que restam duas vagas para três candidatos (Victor, Doni e Gomes), fato que só aumenta sua ansiedade nas semanas que antecedem a convocação final.

"A disputa deve ficar entre esses três mesmo, talvez com um ou outro correndo por fora. Estou trabalhando para ser chamado, mas ele (Dunga) tem suas opções e claro que vou respeitá-las. Estou pronto, preparado e vou ficar muito feliz se a oportunidade vier. Agora é só controlar a ansiedade", brinca o goleiro.

E, para seguir cotado, Victor quer mais do que apenas trabalhar. Ele também quer títulos no Grêmio para confirmar a ascensão no futebol e se firmar ainda mais como ídolo da apaixonada torcida Tricolor. "Ver essa mobilização é algo que me deixa muito feliz. É muito gostoso ser ídolo em tão pouco tempo. Tenho muito carinho pelo torcedor", conta o goleiro, que agora só pensa naquele que seria o impulso decisivo nesta rápida escalada. "Vou seguir me dedicando para ser campeão aqui."

(FIFA.com) Sexta-feira 16 de abril de 2010

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