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sexta-feira, 26 de junho de 2009

A primeira cabeçada



Seu nome era Black. Georg Black. Um alemão retaco, de ombros largos e barba hirsuta, egresso de Munique, terra da deliciosa cerveja Paulaner, da mais antiga cervejaria do mundo e da Oktoberfest, lugar sobre o qual Adolf Hitler disse um dia:


— Quem não conhece Munique, não conhece a Alemanha.


Black jogou nos primórdios do Grêmio, era centromédio, seu nome consta na escalação do primeiro Gre-Nal, disputado há um século menos um mês. Foi por aquele tempo, jogando na Baixada, que Black fez o impensável: num lançamento alto para a área, ele saltou, deu um testaço na bola e mandou-a para o gol sem redes, que rede era um instrumento que não se usava ainda por aqui.

O juiz paralisou a partida. Que espécie de jogada era aquela? Nunca ninguém tinha colocado a cabeça na bola antes. Pelo menos não em gramados do Rio Grande amado.


O gol valia ou não valia? Todo mundo discutia: jogadores, torcedores, árbitros. Depois disso, Black tornou-se famoso no Estado como o homem que dava “cocadas” na bola.

Não foram muitos os cabeceadores célebres depois dele. Nos anos 40, o Grêmio contratou um argentino, Ramón Castro, que, segundo o Salim Nigri, pulava um metro mais alto do que qualquer zagueiro e cabeceava com a potência de quem chuta um tiro-de-meta. Era o herói do Salim, o Ramón Castro.


Nos anos 50, o Inter teve o seu cabeceador, um pernambucano que, não por acaso, era apelidado de Bodinho. Nos 70, surgiu no flamante Beira-Rio o grande Escurinho, que metia na bola uma cabeça ornada de cabelo black-power da altura de um chapéu de cozinheiro. Na mesma época, o Grêmio contragolpeava com Neca, que, num único ano, marcou 40 gols de cabeça.


Depois deles, os cabeceadores mais nobres da Dupla foram Jardel e Fernandão. Fernandão, diziam que Fernandão imprimia violência inusitada na bola com um golpe de cabeça porque os médicos lhe implantaram uma placa de titânio na testa. Pode ser, mas não aconselho os meninos que queiram se transformar em cabeceadores a fazer o mesmo em casa.

Agora, o Grêmio tem o argentino Maxi López. Um cabeceador de nascença, vê-se, e que joga com o 16 às costas, o mesmo número da camisa de Jardel na Libertadores de 95.


Como ocorria com Jardel nos anos 90, o Grêmio de agora tinha de jogar para Maxi López. Todo o esquema do Grêmio devia ser desenhado para que os movimentos do time culminassem em Maxi López. Maxi López, a salvação do paupérrimo Grêmio dos anos 2000. Aproveitem-no. Não é sempre que se tem no ataque um jogador da estirpe do velho Georg Black.

* Texto de David de Coimbra publicado na página 50 de ZH 24/06/09.

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