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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O poder do Olímpico - ZH de Domingo






O segredo azul

A imagem da torcida atrás da goleira serve de fonte inspiradora para Tcheco produzir uma ação curiosa na consagração do Olímpico como grande craque do Grêmio em 2009. Lá pelas tantas, o capitão pensou assim: que efeito produziria no adversário ficar, já no começo do jogo, de frente para aquele cenário de pessoas cantando e pulando ao fundo tal qual uma seita? Intimidação, capaz de refugiar o inimigo no seu próprio campo? Desatenção, para produzir um erro de passe que permita o contra-ataque? Medo, tão somente medo? Bem, o certo é que Tcheco decidiu, em caso de vitória no cara ou coroa administrado pelo árbitro no círculo central, deixar o goleiro Victor na goleira da Cascatinha, protegido pelo Geral.


– Virou costume nosso. Só mudamos quando o sol ou o vento influenciam. Então começamos com tudo – confidencia Victor, que Dunga acaba de convocar para ir até Rosário enfrentar a Argentina, pelas Eliminatórias da Copa de 2010.


O fator local ganhou contornos tão sagrados no Grêmio de 2009 que até boatos sobre magia começaram a circular pelos cantos do Olímpico. Um deles atesta que os jogadores ouvem a torcida no vestiário e passam a cantar junto, o que os faria entrar em campo transtornados e capazes de derrotar o exército persa inteiro em 45 minutos, sem necessidade de acréscimos, mesmo com reservas. Pura lenda. O que existe, isso sim, quando a necessidade de reverter algum resultado é mais dramática – naquele 4 a 0 sobre o Caxias, no Gauchão, por exemplo – são os telões.

– Eles filmavam a Geral e passavam o tempo todo nos telões enquanto a gente se fardava. Aí íamos entrando no clima – testemunha o volante Lucas, do Liverpool.


– Não dá para ouvir nada lá dentro. Já não se pode dizer o mesmo do vestiário visitante – acrescenta André Krieger, vice de futebol até julho, quando foi substituído por Luiz Onofre Meira.


Ocorre que o vestiário visitante fica exatamente embaixo da Geral. Ali sim, pela proximidade, ouve-se de tudo: gritos, cantos, vaias. O teto estremece com o peso da multidão. Diego Cavalieri, ex-goleiro do Palmeiras, hoje no Liverpool, oferece o seu testemunho sobre como é jogar no Olímpico na condição de desafiante:


– É um dos piores lugares para se jogar fora de casa. Um inferno!


O mais expressivo dos rituais começa, curiosamente, longe do Olímpico. A 12 quilômetros de distância, no hotel Deville, concentração do Grêmio. Quando a Rádio Gaúcha informa que o ônibus azul partiu em direção à Azenha, torcedores com bandeirinhas se posicionam ao longo do trajeto: Avenida dos Estados, freeway, Castelo Branco, túnel da Conceição, João Pessoa, Olímpico. Os jogadores vão no andar de baixo. Dirigentes e comissão técnica, no de cima. À medida que o ônibus vai se aproximando da Azenha, as manifestações vão aumentando, até terminar na explosão em frente ao vestiário.


– A gente usa as TVs do ônibus para passar vídeos. O da Batalha dos Aflitos entra direto. Usamos também imagens da torcida e lances de quem vai jogar. Na Libertadores, fizemos muito isso. No Grêmio, não tem essa de psicólogo. Nós mesmo fazemos esta parte anímica do fator local – diz Paulo Pelaipe, ex-diretor de futebol.


Há quem diga que a combinação sucesso em casa e fracasso fora é caso clássico de divã. Professor da UFGRS, o gremista e psiquiatra Fernando Grilo Gomes arrisca uma explicação. Tudo não passa de algo chamado pelos doutores dos escaninhos da mente de “temor do desconhecido”. Que se potencializa pelo fato de boa parte dos personagens estarem começando uma caminhada no clube. Então, Autuori recém deflagra um trabalho que passa por certa mudança de cultura, Luiz Onofre Meira é o chefão do futebol pela primeira vez, Duda Kroeff estreia na presidência e há muitos guris da base no grupo.


– O impacto inicial diante do medo do desconhecido é comum. Vem a apreensão emocional, o desgaste para se movimentar. Imagine isso em grupo: um pode contaminar o outro. Só o tempo resolve. É um processo de amadurecimento. Em casa, o Grêmio é influenciável pelo carinho da sua família, que é a torcida – analisa Fernando Gomes.

1 comentários:

Anônimo,  24 de agosto de 2009 às 09:38  

Nunca tinha parado para pensar nisso, mais é bem real mesmo.
Parabens ao Capitão pela tática.

Saudações e rumo ao G-4

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